Rembrandt (1606–1669). Em 15 de julho de 1606, nascia em Leiden, na então República Holandesa, Rembrandt Harmenszoon van Rijn, um dos maiores expoentes da arte ocidental, cuja obra transcende o tempo e define a Era de Ouro holandesa. Pintor, gravador e desenhista, Rembrandt é reconhecido por sua maestria em retratos, autorretratos, cenas bíblicas, históricas, mitológicas e paisagens, produzindo cerca de trezentas pinturas, trezentas gravuras e várias centenas de desenhos. Sua arte, marcada por um uso dramático do chiaroscuro e uma profunda empatia humana, reflete tanto sua habilidade técnica quanto sua fé cristã, enraizada na tradição reformada holandesa. Embora nunca tenha deixado os Países Baixos, sua obra absorveu influências dos mestres italianos e dos caravaggistas holandeses, resultando em um estilo único que combina espiritualidade e inovação artística. Sua vida, repleta de sucessos iniciais, tragédias pessoais e dificuldades financeiras, é um testemunho de resiliência e devoção à arte como expressão da condição humana e divina.
Filho de Harmen Gerritszoon van Rijn, um moleiro próspero, e Neeltgen Willemsdochter van Zuijtbrouck, filha de um padeiro, Rembrandt cresceu em uma família abastada, sendo o nono de dez filhos. Sua mãe, católica, e seu pai, membro da Igreja Reformada Holandesa, incutiram-lhe uma educação religiosa que se manifestaria em suas numerosas cenas bíblicas, como A Volta do Filho Pródigo, que captura a misericórdia divina com uma intensidade emocional. Frequentou a escola latina em Leiden e, em 1620, matriculou-se na Universidade de Leiden, mas sua verdadeira vocação era a pintura. Aos 14 anos, tornou-se aprendiz de Jacob van Swanenburg, com quem estudou por três anos, antes de passar seis meses cruciais com Pieter Lastman, em Amsterdã, em 1624. Lastman, um pintor de cenas históricas, introduziu-o à técnica do chiaroscuro e à narrativa visual inspirada em Caravaggio, moldando sua abordagem à luz e à composição. Em 1625, Rembrandt abriu seu próprio ateliê em Leiden, compartilhado com Jan Lievens, e começou a aceitar alunos, como Gerrit Dou, sinalizando seu talento precoce.
Em 1631, Rembrandt mudou-se para Amsterdã, centro comercial e artístico em ascensão, onde se estabeleceu como retratista de sucesso. Hospedado inicialmente com o marchand Hendrick van Uylenburgh, casou-se com sua prima, Saskia van Uylenburgh, em 1634, uma união que trouxe estabilidade emocional e conexões sociais. Tornou-se cidadão de Amsterdã e membro da guilda dos pintores, expandindo seu ateliê com alunos como Ferdinand Bol e Govert Flinck. Sua produção inicial em Amsterdã, como A Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp, exibe uma precisão técnica e um domínio da luz que capturam a dignidade humana com um toque espiritual. Suas gravuras, iniciadas em 1626, como O Filho Pródigo na Taverna, disseminaram sua fama internacional, destacando sua habilidade em traduzir emoção em linhas e tons. Sua fé cristã, embora não ortodoxa, permeava suas obras bíblicas, que evitavam o dogmatismo em favor de uma humanidade palpável, como em A Tempestade no Mar da Galileia, uma de suas raras marinhas.
A década de 1640 trouxe prosperidade, mas também tragédias. Rembrandt e Saskia perderam três filhos logo após o nascimento, e apenas Titus, nascido em 1641, sobreviveu à infância. A morte de Saskia em 1642, provavelmente por tuberculose, marcou um ponto de inflexão. Seus desenhos dela em seu leito de morte revelam uma intimidade comovente, refletindo sua crença na transitoriedade da vida sob o olhar divino. A Ronda Noturna, concluída em 1642, é sua obra mais célebre, uma composição dinâmica que rompe com a formalidade dos retratos de grupo, utilizando luz e movimento para sugerir uma narrativa espiritual de ordem e caos. Contudo, sua extravagância financeira, com gastos em arte e objetos raros, levou a dificuldades crescentes. Em 1649, envolveu-se com Hendrickje Stoffels, sua empregada, que se tornou sua companheira. O nascimento de sua filha Cornelia, em 1654, trouxe alegria, mas também controvérsias com a Igreja Reformada, que censurou Hendrickje por sua relação fora do casamento, embora Rembrandt não tenha enfrentado reprimendas diretas.
A partir de 1656, Rembrandt enfrentou a insolvência, declarando falência e cedendo seus bens, incluindo sua casa na Breestraat, em 1658. Transferiu a propriedade para Titus, protegendo parte de seu legado. Hendrickje e Titus formaram uma empresa de arte para sustentar Rembrandt, que continuou a trabalhar, produzindo obras como A Noiva Judia, uma meditação sobre o amor e a fé, e autorretratos que revelam uma introspecção profunda, como o de 1659, onde seu rosto marcado reflete a aceitação da mortalidade sob a graça divina. Suas gravuras tardias, como Os Três Cruzes, mostram uma liberdade técnica, com traços expressivos e uso inovador do papel japonês, enquanto suas pinturas adotam pinceladas mais soltas, inspiradas por Ticiano, que sugerem forma e espaço de maneira tátil. Apesar das adversidades, continuou a receber encomendas, como Os Síndicos da Guilda dos Drapeiros, em 1662, que demonstra sua habilidade inabalável em capturar a dignidade humana.
Rembrandt faleceu em 4 de outubro de 1669, em Amsterdã, e foi sepultado na Westerkerk, em uma cova alugada, refletindo sua modéstia final. Sobreviveu a Hendrickje e Titus, deixando Cornelia como herdeira. Sua coleção de arte, incluindo obras de Rafael e Mantegna, foi leiloada, mas seu legado artístico permaneceu intocado. Suas obras, preservadas em museus como o Rijksmuseum e a National Gallery, continuam a inspirar, com autorretratos que narram sua jornada espiritual e cenas bíblicas que humanizam o divino. Rembrandt, guiado por uma fé que via a luz na escuridão, transformou a arte com sua visão única, deixando um testemunho eterno da beleza e da redenção.