René Descartes (1596-1650), nascido em 31 de março de 1596 em La Haye en Touraine, França, e falecido em 11 de fevereiro de 1650 em Estocolmo, Suécia, foi um filósofo, matemático e cientista cuja obra marcou a emergência da filosofia e da ciência modernas. Reconhecido como o pai da geometria analítica, ele unificou álgebra e geometria, revolucionando o pensamento matemático. Sua máxima "cogito, ergo sum" ("penso, logo existo"), articulada no "Discurso do Método" e nas "Meditações sobre Filosofia Primeira", fundamentou sua epistemologia racionalista, influenciando o Iluminismo e a filosofia ocidental. Católico fervoroso, Descartes buscou reconciliar razão e fé, defendendo a existência de Deus e a imortalidade da alma, embora suas ideias tenham enfrentado oposição da Igreja. Sua vida, marcada por viagens, introspecção e contribuições à Revolução Científica, reflete um compromisso com a verdade alcançada pela dúvida metódica e pela lógica dedutiva.
Filho de Joachim Descartes, membro do Parlamento de Rennes, e Jeanne Brochard, que faleceu logo após seu nascimento, René cresceu com sua avó e tio em uma família católica em uma região huguenote. Sua saúde frágil retardou sua entrada no Colégio Jesuíta de La Flèche em 1607, onde estudou matemática, física e as ideias de Galileu, além de se interessar por misticismo hermético. Após graduar-se em direito na Universidade de Poitiers em 1616, conforme desejo paterno, Descartes abandonou a carreira jurídica, optando por viajar e explorar o "grande livro do mundo". Em 1618, alistou-se como mercenário no exército protestante holandês em Breda, onde conheceu Isaac Beeckman, que o inspirou a aplicar a matemática à filosofia e à física. Uma experiência mística em 1619, durante uma noite em Neuburg, revelou-lhe a unidade das ciências e a ideia da geometria analítica, solidificando sua missão de buscar a sabedoria científica.
Estabelecendo-se na Holanda em 1628, Descartes encontrou um ambiente intelectual propício, longe da Inquisição. Em Franeker e Leiden, aprofundou seus estudos em matemática e astronomia, desenvolvendo obras como o "Compêndio de Música" e as "Regras para a Direção do Espírito". Sua relação com Helena Jans van der Strom resultou no nascimento de sua filha Francine, cuja morte aos cinco anos, em 1640, o abalou profundamente, redirecionando seu foco para questões universais. Em 1637, publicou o "Discurso do Método", com ensaios sobre meteorologia, ótica e geometria, introduzindo sua dúvida metódica como base para o conhecimento certo. As "Meditações sobre Filosofia Primeira" (1641) consolidaram sua filosofia, defendendo a existência do eu pensante, de Deus e do mundo material, enquanto os "Princípios de Filosofia" (1644) sintetizaram sua metafísica e física mecanicista. Sua correspondência com a princesa Isabel da Boêmia, entre 1643 e 1649, explorou a ética e as paixões, culminando em "As Paixões da Alma" (1649), onde propôs a glândula pineal como elo entre corpo e alma.
A filosofia de Descartes rompeu com a escolástica aristotélica, rejeitando a divisão da substância em matéria e forma e negando causas finais nos fenômenos naturais. Ele propôs um dualismo mente-corpo, afirmando que a mente, uma substância pensante, é distinta do corpo, uma substância extensa, embora unidas intimamente. Essa visão, articulada nas "Meditações", abriu caminho para a física moderna ao excluir teleologia, mas preservou espaço para crenças religiosas, como a imortalidade da alma. Como católico, Descartes defendeu a existência de Deus por meio do argumento da marca (baseado na ideia de perfeição) e do argumento ontológico, enfatizando que Deus, sendo benevolente, não enganaria seus sentidos. Contudo, sua racionalidade mecanicista atraiu acusações de deísmo e ateísmo, levando a Igreja Católica a incluir suas obras no Índice de Livros Proibidos em 1663, após sua morte.
Na matemática, Descartes revolucionou o campo com a geometria analítica, introduzindo o sistema de coordenadas cartesianas e a notação moderna, como o uso de x, y, z para variáveis e expoentes para potências. Sua obra "A Geometria" influenciou o cálculo de Leibniz e Newton, enquanto suas leis do movimento, descritas nos "Princípios", anteciparam a conservação do momento linear. Em física, ele adotou uma visão mecanicista, explicando fenômenos como refração óptica e magnetismo por partículas em movimento, e propôs teorias sobre meteorologia baseadas em partículas elementares. Sua visão dos animais como máquinas sem alma, distinta da mente humana, dominou o pensamento europeu até Darwin, embora tenha justificado maus-tratos a animais. Em psicologia, Descartes investigou as paixões, distinguindo seis emoções básicas e explicando reações automáticas do corpo, influenciando a teoria dos reflexos.
Convidado pela rainha Cristina da Suécia em 1649 para fundar uma academia científica, Descartes enfrentou um inverno rigoroso e aulas matinais no castelo. Sua relação com a rainha foi tensa, devido a divergências intelectuais, e ele contraiu pneumonia, falecendo em 11 de fevereiro de 1650. Sepultado inicialmente em um cemitério protestante em Estocolmo, seus restos foram transferidos para a França em 1666, repousando hoje na Abadia de Saint-Germain-des-Prés. Descartes legou um sistema filosófico que emancipou a razão humana, deslocando a autoridade da verdade de Deus para o indivíduo. Sua dúvida metódica e ênfase na certeza moldaram o racionalismo, influenciando Spinoza, Leibniz e o Iluminismo, enquanto sua integração de ciência, matemática e teologia permanece um marco na história do pensamento ocidental.