Robert Boyle (1627-1691), nascido em 25 de janeiro de 1627, em Lismore Castle, condado de Waterford, Irlanda, foi uma figura central no desenvolvimento da ciência moderna, distinguindo-se como filósofo natural, químico, físico e teólogo. Sétimo filho do influente Richard Boyle, primeiro Conde de Cork, e de Catherine Fenton, Robert cresceu em um ambiente de privilégios, mas também de profundas convicções religiosas anglicanas, que moldaram tanto sua vida pessoal quanto sua obra intelectual. Reconhecido como um dos fundadores da química moderna, Boyle é amplamente celebrado pela formulação da lei que leva seu nome, descrevendo a relação inversamente proporcional entre a pressão e o volume de um gás em um sistema fechado, e por sua obra seminal, "O Químico Cético", que redefiniu os fundamentos da química ao criticar as teorias alquímicas tradicionais. Sua abordagem experimental rigorosa lançou as bases do método científico moderno, enquanto sua devoção cristã permeou suas investigações, buscando harmonizar a ciência com a fé.
Criado inicialmente por uma ama de leite, como era costume entre a aristocracia da época, Boyle perdeu a mãe aos oito anos e foi enviado, junto com seu irmão Francis, para o Eton College, na Inglaterra, onde estudou sob a supervisão de Robert Carew, um tutor particular versado em latim, grego e francês. Apesar de tentativas de introduzir o irlandês, Boyle e seu irmão preferiram focar nas línguas clássicas. Após três anos em Eton, ele embarcou em uma viagem pela Europa com um tutor francês, permanecendo em Florença durante o inverno de 1641, onde estudou as ideias de Galileu Galilei, já idoso. Essa experiência despertou seu interesse pela investigação científica, que se intensificaria ao retornar à Inglaterra em 1644. Herdeiro do manor de Stalbridge, em Dorset, e de extensas propriedades na Irlanda, Boyle estabeleceu-se em Stalbridge House, onde montou um laboratório e dedicou-se a experimentos que marcariam sua carreira.
Na década de 1650, Boyle integrou o grupo de estudiosos conhecido como "Colégio Invisível", um precursor da Royal Society, que promovia a "nova filosofia" baseada na experimentação. Frustrado com a falta de recursos químicos na Irlanda, onde residiu brevemente em 1652, ele se mudou para Oxford em 1654, alugando quartos em Cross Hall. Lá, com a colaboração de Robert Hooke, aperfeiçoou a bomba de vácuo de Otto von Guericke, criando a "machina Boyleana" em 1659. Esse instrumento permitiu experimentos pioneiros sobre as propriedades do ar, publicados em "Novos Experimentos Físico-Mecânicos" (1660). Foi ao responder às críticas do jesuíta Francis Line que Boyle articulou a lei da proporcionalidade entre pressão e volume, embora a hipótese inicial tenha sido proposta por Henry Power e posteriormente associada a Edme Mariotte na Europa continental. Em 1663, ele foi nomeado membro do conselho da recém-fundada Royal Society, recusando a presidência em 1680 por escrúpulos relacionados a juramentos.
A química, porém, foi o campo onde Boyle deixou sua marca mais indelével. Em "O Químico Cético" (1661), ele rejeitou a teoria dos três princípios alquímicos — sal, enxofre e mercúrio — e defendeu a ideia de que os elementos são constituintes indecomponíveis dos corpos materiais, distinguindo misturas de compostos. Sua abordagem analítica para identificar os componentes das substâncias estabeleceu novos padrões para a química, enquanto seus estudos sobre combustão, respiração e "ares factícios" (como o hidrogênio) anteciparam descobertas futuras. Embora acreditasse na possibilidade da transmutação dos metais, Boyle contribuiu para a revogação de leis que restringiam tais experimentos, consolidando a química como uma ciência autônoma.
Paralelamente, a fé cristã de Boyle foi um pilar de sua vida. Como anglicano devoto, ele via a filosofia natural como um meio de revelar a ordem divina no universo. Em obras como "Disquisição sobre as Causas Finais das Coisas Naturais" (1688), criticou filósofos como Descartes, que negavam o valor teológico da ciência, e argumentou que o design da natureza apontava para a existência de Deus. Em "Considerações Físico-Teológicas sobre a Possibilidade da Ressurreição" (1675), utilizou experimentos químicos para sustentar a plausibilidade física da ressurreição do corpo. Como diretor da Companhia das Índias Orientais, Boyle financiou a tradução da Bíblia para línguas vernáculas, incluindo uma edição em irlandês do Antigo e Novo Testamento entre 1680 e 1685, desafiando a hostilidade da classe ascendente protestante ao idioma. Sua perspectiva monogenista sobre a origem das raças, considerando todos os humanos descendentes de Adão e Eva, reflete seu compromisso com a unidade da criação, embora suas especulações sobre diferenças raciais, influenciadas por Hooke e Newton, tenham sido controversas.
Nos últimos anos, a saúde frágil de Boyle o levou a reduzir seus compromissos públicos. A partir de 1668, ele residiu em Londres com sua irmã, Katherine Jones, Lady Ranelagh, cuja influência intelectual foi crucial em sua carreira. Juntos, compartilharam um laboratório e participaram de um salão de intelectuais. Após a morte de Katherine em dezembro de 1691, Boyle faleceu uma semana depois, em 31 de dezembro, vítima de paralisia. Sepultado em St Martin-in-the-Fields, deixou um legado duradouro com a criação das Boyle Lectures, destinadas a defender o cristianismo contra o ateísmo e outras crenças. Sua vasta obra, que inclui tratados como "Experimentos e Considerações sobre Cores" (1664) e "Paradoxos Hidrostáticos" (1666), reflete uma mente que uniu rigor científico e fervor espiritual, consolidando-o como um dos arquitetos do pensamento moderno.