Teorodo de Beza (1519-1605), nasceu em 24 de junho de 1519, na cidade de Vézelay, França, em uma família de nobres com laços próximos à corte real. Seu pai, Pierre de Beze, ocupava um cargo de destaque como conselheiro do Parlamento de Paris, e desde cedo o jovem Théodore foi direcionado para uma carreira jurídica. Aos nove anos, foi enviado a Orléans para estudar sob a tutela de Melchior Wolmar, um renomado humanista alemão que se tornaria uma figura central em sua formação intelectual e espiritual. Sob a influência de Wolmar, Beza não apenas aprimorou seus conhecimentos das línguas clássicas, mas também teve seu primeiro contato significativo com os princípios da Reforma Protestante. Após o retorno de Wolmar à Alemanha em 1534, Beza continuou seus estudos em Paris, onde foi exposto às ideias humanistas e às tensões religiosas que fervilhavam na França da época.
A conversão de Beza ao protestantismo ocorreu em 1548, após um período de profunda crise espiritual e física. Durante meses, ele enfrentou uma grave enfermidade que o levou a refletir sobre sua fé e sua vocação. Ao recuperar-se, decidiu romper com sua vida anterior, abandonando a carreira jurídica e os privilégios de sua posição social para dedicar-se integralmente à causa reformada. Essa decisão resultou em sua condenação pelo Parlamento de Paris e na perda de parte de seus bens, forçando-o a buscar refúgio na República de Genebra. Lá, ele encontrou acolhida entre os adeptos da Reforma e começou a colaborar ativamente com João Calvino, tornando-se um dos principais defensores da teologia reformada. Sua erudição e eloquência logo o destacaram como uma voz influente no movimento protestante.
Ao longo de sua vida, Beza desempenhou papéis cruciais tanto como teólogo quanto como líder eclesiástico. Após a morte de Calvino, em 1564, ele assumiu a liderança espiritual de Genebra, consolidando-se como o principal representante da tradição calvinista. Durante esse período, dedicou-se à elaboração de textos teológicos que ampliaram e sistematizaram os ensinamentos de seu mentor. Entre suas contribuições mais notáveis está a defesa rigorosa da doutrina da predestinação, bem como sua participação em debates teológicos que moldaram a identidade do protestantismo europeu. Beza foi um debatedor incansável, envolvendo-se em controvérsias sobre temas como a natureza da Ceia do Senhor, a doutrina da justificação pela fé e as implicações éticas da graça divina. Suas obras demonstram uma combinação única de erudição bíblica, habilidade retórica e compromisso inabalável com os princípios reformados.
Além de suas atividades teológicas, Beza também se destacou como um estudioso humanista e exegeta bíblico. Ele produziu diversas edições do Novo Testamento grego, acompanhadas por traduções latinas e anotações detalhadas que influenciaram gerações de estudiosos. Entre seus recursos mais valiosos estavam dois manuscritos antigos: o Codex Bezae e o Codex Claromontanus, que trouxeram novas luzes para a crítica textual do Novo Testamento. Embora suas edições fossem baseadas em trabalhos anteriores, como os de Erasmo e Robert Estienne, Beza enriqueceu-as com suas próprias análises e observações, tornando-as referências indispensáveis para o estudo bíblico. Além disso, ele escreveu peças dramáticas de caráter religioso, como Abraham Sacrifiant, que combinavam arte literária com apologética cristã.
Beza também desempenhou um papel diplomático importante, representando os interesses dos huguenotes em várias ocasiões. Viajou extensivamente pela Europa, defendendo a causa protestante e buscando apoio político e financeiro para as comunidades reformadas. Participou de colóquios teológicos, como o de Montbéliard em 1586, onde debateu questões fundamentais da fé cristã com líderes luteranos. Esses encontros frequentemente revelavam as tensões entre diferentes facções do protestantismo, mas também demonstravam a habilidade de Beza em articular suas convicções com clareza e firmeza. Apesar de sua reputação como polemista, ele era reconhecido por sua dedicação pastoral e seu compromisso com a unidade da igreja, sempre buscando promover o entendimento mútuo sem comprometer os princípios essenciais da fé reformada.
Nos últimos anos de sua vida, Beza continuou a escrever e ensinar, deixando um legado duradouro para o protestantismo. Ele publicou biografias, tratados históricos e obras de teologia prática, todas marcadas por um profundo senso de responsabilidade espiritual. Sua visão determinista da providência divina, embora controversa, refletia sua convicção de que todos os aspectos da existência humana estão subordinados à vontade soberana de Deus. Essa perspectiva, expressa em obras como Summa totius Christianismi, influenciou profundamente o desenvolvimento da teologia reformada e continua a ser estudada por teólogos contemporâneos. Beza faleceu em 13 de outubro de 1605, aos 86 anos, sendo sepultado na Catedral de Saint-Pierre, em Genebra, em um gesto que simbolizava o respeito e a admiração que ele inspirava.
O impacto de Beza transcendeu sua época, consolidando-se como uma figura central na história do cristianismo reformado. Sua contribuição para a exegese bíblica, a teologia sistemática e a defesa da liberdade religiosa permanece relevante até hoje. Além disso, sua capacidade de integrar erudição acadêmica com paixão pastoral fez dele um modelo para líderes cristãos em contextos de adversidade. Embora algumas de suas posições tenham sido criticadas por sua rigidez ou falta de flexibilidade, sua dedicação à verdade bíblica e sua lealdade aos princípios reformados são indiscutíveis. Beza encarna a síntese rara de intelecto aguçado e piedade genuína, características que o tornaram uma figura indispensável na construção do protestantismo europeu. Seu legado perdura não apenas em suas obras, mas também na influência que exerceu sobre pensadores e líderes religiosos que vieram depois dele.
Teorodo de Beza (1519-1605), teólogo francês, filho do bailli Pierre de Bèsze, nasceu em Vezelai, Borgonha, em 24 de junho de 1519. De boa linhagem, seus pais eram conhecidos pela generosa piedade. Deve sua educação a um tio, Nicolas de Bèsze, conselheiro do parlamento de Paris, que o colocou (1529) sob os cuidados de Melchior Wolmar em Orleães e, posteriormente, em Bourges. Wolmar, que ensinara grego a Calvino, fundamentou Beza nas Escrituras a partir de uma perspectiva protestante; após seu retorno à Alemanha (1534), Beza estudou direito em Orleães (maio de 1535 a agosto de 1539), começando a praticar em Paris (1539) como licenciado em direito. A este período pertencem seus exercícios em verso latino, no estilo frouxo da época, imprudentemente publicados por ele como Juvenilia em 1548. Embora não estivesse ordenado, ele detinha dois benefícios. Uma grave doença trouxe uma mudança; ele se casou com sua amante, Claude Desnoz, e juntou-se à igreja de Calvino em Genebra (outubro de 1548). Em novembro de 1549, foi nomeado professor de grego em Lausanne, onde atuou como adjunto de Calvino em várias publicações, incluindo sua defesa da queima de Serveto, De Haereticis a civili magistratu puniendis (1554). Em 1558, tornou-se professor na academia de Genebra, onde sua carreira foi brilhante. Sua habilidade notável foi mostrada no frustrado Colóquio de Poissy (1561). Com a morte de Calvino (1564), tornou-se seu biógrafo e sucessor administrativo. Como historiador, Beza, devido à sua imprecisão cronológica, foi a fonte de sérios erros; como administrador, suavizou a rigidez de Calvino. Suas edições e versões latinas do Novo Testamento tiveram uma influência marcante nas versões em inglês de Genebra (1557 e 1560) e Londres (1611). O famoso códice D. foi apresentado por ele (1581) à Universidade de Cambridge, com uma narrativa caracteristicamente duvidosa da história do manuscrito. Suas obras são muito numerosas, mas de pouca importância, exceto as já mencionadas. Renunciou a seus cargos em 1600 e faleceu em 13 de outubro de 1605. Casou-se novamente (1588) com Catherine del Piano, uma viúva, mas não deixou descendência. Não foi o autor da Histoire ecclésiastique (1580), às vezes atribuída a ele; nem, provavelmente, da sátira vulgar publicada sob o nome de Benedict Panavantius (1551).
Fonte: Britannica