William J. Seymour (1870-1922) nasceu em 1870, no estado da Louisiana, em uma família afro-americana composta por ex-escravizados. Criado em um ambiente marcado pela luta por dignidade em meio a um contexto ainda hostil à população negra, Seymour desenvolveu desde cedo um senso de vocação cristã orientado por uma espiritualidade profunda e pela busca da presença de Deus em sua vida. Ainda criança, foi batizado na Igreja Católica, mas posteriormente aproximou-se da tradição protestante, especialmente do movimento de santidade, que influenciaria decisivamente seu entendimento teológico. O falecimento de seu pai quando ainda jovem o colocou como responsável pelo sustento da família, o que o forçou a dividir sua atenção entre o trabalho e a busca por formação espiritual.
Na década de 1890, estabeleceu-se em Indianápolis, onde passou a frequentar igrejas metodistas negras e, em meio a esse contexto, experimentou uma experiência de conversão pessoal. Ali teve seu primeiro contato com os ensinos do movimento da santidade, que enfatizava a vida de pureza, a consagração pessoal e a iminente volta de Cristo. Em seu itinerário espiritual, Seymour valorizava práticas como a cura divina, a lavagem dos pés como ato de humildade e a separação do mundo como sinal de compromisso com a santificação. Esses elementos moldariam sua posterior teologia pentecostal, ainda em desenvolvimento.
Em 1901, mudou-se para Cincinnati, onde frequentou por um breve período a escola bíblica de Martin Wells Knapp, que promovia uma espiritualidade aberta a revelações, visões e ao estudo escatológico. Durante essa fase, contraiu varíola, enfermidade que o deixou cego do olho esquerdo, algo que interpretou como resultado de sua relutância em responder prontamente ao chamado divino ao ministério. Pouco depois, deslocou-se para Houston, onde se envolveu com a comunidade liderada por Charles Parham, uma figura central na formulação do pentecostalismo moderno. Embora segregado pelas leis raciais do sul dos Estados Unidos, Seymour participou, ainda que de forma marginal, das aulas de Parham sobre o batismo no Espírito Santo e o dom de línguas, doutrina que passaria a integrar seu próprio entendimento da obra do Espírito.
Foi enviado a Los Angeles em 1906 para liderar uma pequena missão. Ao chegar, encontrou forte resistência por afirmar que o falar em línguas era a evidência da recepção do Espírito Santo — doutrina ainda controversa entre os círculos de santidade. Impedido de pregar na igreja que o havia convidado, iniciou reuniões de oração em casas particulares, nas quais insistia em buscar a plenitude do Espírito. Após um período de jejum e oração, alguns membros da comunidade começaram a manifestar dons espirituais, inclusive o falar em línguas. Seymour, ele mesmo, passou a falar em línguas poucos dias depois. Esse momento marcou o início do que seria conhecido como o avivamento da Rua Azusa.
A missão cresceu rapidamente, migrando para um prédio simples na Rua Azusa, em Los Angeles, que se tornou o centro de um movimento que transformaria o panorama do cristianismo moderno. O culto realizado ali era notavelmente marcado por características que rompiam barreiras sociais: negros e brancos adoravam juntos, mulheres exerciam liderança, e imigrantes de diferentes origens participavam livremente, em nítido contraste com a segregação racial e os padrões de autoridade eclesiástica do período. Seymour sustentava que a obra do Espírito transcendia todas as divisões humanas, promovendo unidade verdadeira no corpo de Cristo.
O crescimento da missão foi acompanhado da publicação de um periódico, The Apostolic Faith, que ampliou o alcance das ideias pentecostais a nível nacional e internacional. Contudo, o movimento também enfrentou desafios internos. Divergências doutrinárias e disputas de liderança, especialmente com figuras como Charles Parham e Florence Crawford, enfraqueceram a coesão inicial do grupo. Ainda assim, sob a liderança de Seymour, evangelistas foram enviados a diversos lugares, e comunidades pentecostais começaram a surgir em diferentes estados e países.
Ao longo dos anos seguintes, o protagonismo de Seymour no movimento foi gradualmente reduzido por conflitos internos, perda do controle sobre o jornal da missão e dissensões com outros líderes. Apesar disso, permaneceu fiel à sua vocação pastoral, liderando a missão até sua morte, em 1922. O núcleo original da Rua Azusa, embora reduzido em tamanho, continuou como comunidade afro-americana, marcada pela devoção, oração e louvor.
O legado de William Seymour é imenso. Sua ênfase no batismo com o Espírito Santo, na manifestação dos dons espirituais e na adoração inclusiva impactou decisivamente o surgimento de denominações pentecostais em todo o mundo. O movimento iniciado por seu ministério transformou-se em uma das expressões cristãs mais dinâmicas e crescentes do século XX. Em sua trajetória, encontram-se a humildade do servo, a firmeza doutrinária, a fé operante e o compromisso com uma igreja reconciliada pelo poder do Espírito, que rompe divisões humanas para testemunhar a unidade em Cristo.