William Paley (1743-1805), nascido em julho de 1743 em Peterborough, Inglaterra, e falecido em 25 de maio de 1805, foi um clérigo anglicano, apologista cristão e filósofo cuja obra moldou o pensamento teológico e ético do final do Iluminismo britânico. Reconhecido sobretudo por sua "Teologia Natural" (1802), na qual apresentou o célebre argumento teleológico da analogia do relojoeiro para demonstrar a existência de Deus, Paley combinou rigor lógico com uma fé cristã fervorosa. Sua defesa da providência divina, expressa na harmonia da criação, aliada a contribuições em ética utilitarista e apologética, tornou-o uma figura central na Igreja de Inglaterra. Embora suas ideias tenham enfrentado críticas, especialmente após o surgimento do evolucionismo, seu legado perdura, influenciando debates teológicos e filosóficos até o presente.
Filho de William Paley, diretor da Giggleswick School, e educado na mesma instituição, Paley seguiu os passos do pai e do tio-avô ao ingressar no Christ's College, Cambridge, onde se formou em 1763 como senior wrangler, a mais alta distinção acadêmica. Tornou-se fellow em 1766 e tutor em 1768, lecionando sobre filosofia moral com base em Samuel Clarke, Joseph Butler e John Locke, além de estudos do Novo Testamento. Durante a controvérsia sobre a subscrição aos Trinta e Nove Artigos, Paley defendeu anonimamente a simplificação das exigências doutrinárias, mas recusou assinar a petição de Feathers Tavern, revelando sua prudência em questões eclesiásticas. Seu apoio às colônias americanas durante a Guerra da Independência, motivado pela esperança de abolir a escravidão, reflete seu compromisso com a justiça, enraizado em princípios cristãos.
Em 1776, Paley assumiu a reitoria de Musgrave, posteriormente trocada por Appleby, e em 1780 tornou-se vigário de Dalston. Em 1782, foi nomeado arcediago de Carlisle, onde manteve laços estreitos com a família Law, especialmente com o bispo Edmund Law e seu filho John. Sob pressão de Law, publicou em 1785 "Os Princípios de Filosofia Moral e Política", uma obra que sistematizou suas palestras e se tornou texto obrigatório em Cambridge, passando por quinze edições em sua vida. O livro, que defendia uma ética utilitarista baseada na promoção da felicidade geral, incluía uma crítica contundente à escravidão, ampliando a atenção pública para a causa abolicionista. Paley reforçou essa posição em um discurso em Carlisle, publicado em 1789, demonstrando sua habilidade em conectar teologia e questões sociais.
Na década de 1790, Paley consolidou sua reputação como apologista. Em "Horae Paulinae" (1790), ele comparou as epístolas paulinas com os Atos dos Apóstolos, utilizando "coincidências não intencionais" para argumentar a autenticidade histórica das Escrituras, uma obra considerada por alguns sua mais original. Em 1794, publicou "Visão das Evidências do Cristianismo", que permaneceu no currículo de Cambridge até os anos 1920, reforçando a defesa racional da fé cristã. Essas contribuições renderam-lhe cargos eclesiásticos de prestígio, como um stall em São Paulo, subdecano da Catedral de Lincoln e reitor de Bishopwearmouth. Apesar de uma doença debilitante, Paley concluiu "Teologia Natural", sua última e mais influente obra, na qual argumentou que a ordem e a complexidade da criação evidenciam um design inteligente, usando a analogia do relojoeiro para ilustrar a necessidade de um criador sábio e benevolente.
A "Teologia Natural" reflete a tradição da teologia natural iluminista, inspirando-se em John Ray, William Derham e Bernard Nieuwentyt, e utiliza exemplos de anatomia, história natural e astronomia para sustentar sua tese. Paley dialogou com as ideias de David Hume, que questionava o argumento do design, mas suas obras, mais acessíveis e alinhadas com os valores cristãos da época, superaram a influência de Hume até meados do século XIX. A clareza de seu estilo e a transparência em apresentar contra-argumentos fortaleceram sua credibilidade, mesmo quando normas científicas posteriores desafiaram sua abordagem. Sua ética utilitarista, que media a moralidade pelo bem-estar coletivo, e sua apologética, que buscava harmonizar razão e fé, moldaram o pensamento vitoriano, influenciando até Charles Darwin, que, como estudante em Cambridge, foi profundamente impactado pela "Teologia Natural".
Nos últimos anos, Paley dividiu seu tempo entre Bishopwearmouth e Lincoln, enfrentando uma saúde cada vez mais frágil. Casado duas vezes, deixou descendentes notáveis, incluindo o classicista Frederick Apthorp Paley e o arquiteto Edward Graham Paley. Sepultado na Catedral de Carlisle, seu impacto perdurou, com suas obras reimpressas e usadas em catecismos e tratados até a Segunda Guerra Mundial. Apesar das críticas de evolucionistas como Thomas Huxley, que revitalizaram os argumentos de Hume, e das tensões com o Movimento de Oxford, que rejeitava seu utilitarismo, Paley permanece uma figura paradigmática. Sua abordagem lógica à evidência, admirada até por críticos como Richard Dawkins, e sua integração de fé cristã com investigação racional continuam a inspirar reflexões sobre o design divino e a moralidade no cânone do pensamento ocidental.