A Terceira Epístola de João, uma das mais breves do Novo Testamento, é uma carta pessoal atribuída ao “presbítero”, tradicionalmente identificado como João, o Evangelista, também autor do Evangelho de João e das outras epístolas joaninas. Escrita em grego koiné, com 14 ou 15 versículos conforme o Textus Receptus ou o texto crítico, a epístola é preservada em manuscritos como o Codex Sinaiticus (330-360 d.C.), Codex Alexandrinus (400-440 d.C.) e Codex Vaticanus. Sua datação é estimada para o final do século I, possivelmente entre 90 e 110 d.C., com alguns, como John A. T. Robinson, sugerindo 60-65 d.C. Tradicionalmente associada a Éfeso, a carta não menciona explicitamente o local de redação, mas sua circulação na Ásia Menor é corroborada por citações de Policarpo e Papias. Endereçada a Gaio, a epístola recomenda a hospitalidade a missionários liderados por Demétrio e adverte contra Diótrefes, que rejeita a autoridade do autor. A ausência de referências doutrinárias e a brevidade do texto, o menor do Novo Testamento em contagem de palavras, levaram a questionamentos iniciais sobre sua autenticidade, mas sua canonicidade foi consolidada no início do século V, com apoio de Atanásio e dos concílios de Hipona e Cartago (397 d.C.).
O texto estrutura-se em uma saudação inicial (versículos 1-4), um elogio à hospitalidade de Gaio (versículos 5-8), uma crítica à oposição de Diótrefes (versículos 9-10), uma recomendação de Demétrio (versículos 11-12) e uma despedida com planos de visita (versículos 13-15). Gaio, possivelmente um líder cristão abastado, é elogiado por acolher missionários que, seguindo Marcos 6:8-9, viajam sem recursos, confiando na providência divina. A menção a “irmãos” (3 João 5) destaca a fraternidade cristã, enquanto a referência ao “Nome” (3 João 7) alude a Jesus, embora sem nomeá-lo explicitamente, um traço único no Novo Testamento. A crítica a Diótrefes reflete tensões de liderança, não de doutrina, sugerindo um conflito de autoridade eclesiástica. O autor menciona uma carta anterior, possivelmente perdida, distinta da Segunda Epístola de João devido à ausência de controvérsias doutrinárias. A recomendação de Demétrio, talvez bispo de Filadélfia segundo as Constituições Apostólicas, reforça a prática de cartas de recomendação (cf. 2 Coríntios 3:1).
A epístola carece de exposição doutrinária explícita, mas seu tema central é a hospitalidade cristã, essencial para a missão evangelística. A exortação a imitar o bem e não o mal (3 João 11) ecoa 1 João 3:4-10, vinculando a conduta à comunhão com Deus. A linguagem, semelhante às epístolas joaninas, reforça a autoria comum, embora alguns, como Bultmann, questionem a autenticidade da Segunda Epístola em relação à Terceira. A ausência de menção a Jesus ou Cristo pelo nome, aliada à ênfase na “verdade” e no “amor na fé” (3 João 15), reflete a teologia joanina da comunidade como testemunha de Cristo. A Terceira Epístola de João, com sua concisão e foco prático, sublinha a importância da hospitalidade e da unidade cristã, oferecendo um modelo de liderança servidora em um contexto eclesiástico nascente.